aMULHERnaPRAÇA

Vénia

“Eu, pessoalmente, também acho que é impossível e que esta coisa de ganharmos direitos não nos ilibou dos deveres: acumulámos tudo. O que é desumano, ridículo e injusto. Diria mesmo: revoltante.
É uma questão de opção, é.
Convém é lembrar que nós (mulheres/mães) não podemos fazer o pleno mas ninguém pode! Os homens/pais, também não. E se é uma questão que se nos coloca, também se lhes coloca a eles. Parece é que há muito tempo (regra geral e com as devidas excepções, que também conheço) que a resposta já estava dada, por defeito!
A escolha, sendo uma escolha, deve ser explícita, para que não haja equívocos nem falsas expectativas. E deve permitir que o outro (outra) faça uma escolha, consciente, também.
Ou então, definitivamente, que se partilhem as falhas. Nos dois campos: família e trabalho.”

Daqui: http://30epicos40etal.wordpress.com/2014/07/04/tempo-de-qualidade-my-ass/

Vénia

Quero o divórcio

Ainda sobre se um dia mudo de vida, fiquei a pensar no texto da Ana e nessa coisa do capricho. Quando aos meus 14 anos decidi que queria brincar com letras e espaços, isso poderia ser considerado um capricho. Nem sei se não terá sido para alguém próximo. “Mas então a miúda vai estudar para fazer desenhos?”. Ainda hoje o puto cá de casa, e porque é muito jovem para perceber o que eu faço na vida concretamente, acha que eu passo o dia a fazer desenhos. A minha avó, não sabe o que eu faço, para ela é uma incógnita. “Mas então se tu não escreves, não fazes as fotografias, que fazes tu no jornal?”. Um capricho, avó e chama-se design.

 

Portanto dizia eu, em tempos, há x anos atrás {não vamos considerar a minha idade}, cumpri um capricho: brincar com letras e espaços. Correu bem meus amigos, isto para os mais cépticos. Correu bem na medida em que nunca fui desempregada – felizmente! – consegui até, a dada altura da minha vida trabalhar por conta própria e posso com orgulho dizer que foi a altura em que melhor fui paga. E muito trabalho eu tive.

 

Este capricho permitiu-se fazer logos de empresas ditas a sério, trabalhar em 3 jornais, 1 dos quais tive a felicidade de fundar e fazer parte de todo o projecto inicial, livros com fartura – e poder lê-los em primeira mão -, cartazes de concertos, de todo o tipo de espectáculos, flyers de botecos em Santos até chegar aos que servem de informação útil para feiras de vinho, muitos convites de casamentos e todos os detalhes necessários para noivos felizes, capa de discos que são obras primas, rótulos de vinho e tanto mais que já não lembro. Foi um belo capricho o meu.

 

Porque raio é que agora, a caminho dos 40 – vá, ainda com uns quantos quilómetros para percorrer – acho, atrevo-me a pensar, que ensinar yoga ou pilates, cozinhar por amor, ter um hostel onde preparo o pequeno-almoço e dedico tempo ao pormenor que vou deixar em cima da almofada, pode em algum momento ser considerado capricho? Só, pelo simples pormenor, de me poder fazer feliz e dar dinheiro?

 

O meu capricho de há x anos atrás deu felicidade e deu-me dinheiro, imagine-se. Mas a vida mudou, o dinheiro de agora nem chega quase para me deslocar ao trabalho, o trabalho – esse – deixou de ser prazer. “Ah e tal mas tens emprego contra n desempregados neste país” – é certo, mas o mal está no meu dito emprego ou na taxa de desemprego?

 

Não é um capricho, nada disto é um capricho. Querer ser feliz – acomodando as exigências e dureza da vida, pois claro – não é um capricho. É querer ser feliz. E porra, se eu não tenho direito a isso.

 

O problema está no salto. Está na mudança. É quase como se de um divórcio se tratasse. Nunca passei por um, mas passei por uma separação e sei bem o que implica essa mudança: prática e emocional, ainda que possa ser o desejo. Pois bem, com os dados todos na mesa posso de forma segura afirmar que quero divorciar-me da minha profissão e deste emprego.
Quero o divórcio. É isso.”

Daqui: http://avidamadrasta.blogspot.pt/2014/07/quero-o-divorcio.html